Dr. Thiago C. Valladão de Azeredo
Clínica Médica
Neurologia Clínica
CRM ES 9669

Cefaléia
Existem mais de cento e cinquenta tipos de dores de cabeça já catalogados e que apresentam critérios diagnósticos próprios. Ao longo dos últimos 25 anos está ocorrendo um enorme esforço visando sistematizar o estudo das dores de cabeça.
A sociedade internacional de cefaleias (IHS) lançou sua primeira classificação estruturada em 1988 e a segunda edição em 2004.
Na presente data, há a versão beta da terceira edição publicada na revista oficial da IHS a Cephalalgia. A versão final dessa edição deve ocorrer nos próximos dois anos, talvez em concomitância com a décima primeira classificação internacional e doenças (CID 11). Neste cenário surgem os entusiastas e estudiosos da área, se desenvolve a interdisciplinaridade entre médicos, dentistas, fisioterapeutas, psicólogos e terapeutas ocupacionais que se dedicam ao tratamento das dores de cabeça.
Muitas vezes, surgem novos termos como o cefaliatra se forma pelo Grego KEPHALÉ, “cabeça”, mais IATRÓS, “médico” e também a “cefaliatria” que é a sub especialidade neurológica que estuda as dores de cabeça.
O primeiro livro sobre diagnóstico e tratamento da cefaleia foi publicado no Brasil em 1988, pelo professor Farias da Silva. Anos antes (1981) Gilberto Mattos publicou um livro sobre a migrânea (enxaqueca).
Epidemiologia
Cefaleia é a condição neurológica mais prevalente e dentre os sintomas mais frequentemente vistos na prática clínica. Apesar do grande número de trabalhos sobre o tema ainda há dificuldades que devem ser consideradas, principalmente diante do subjetivismo do sintoma e sua interpretação entre os pacientes e os profissionais de saúde. Em geral, o paciente se lembra melhor da cefaleia mais recente ou da mais intensa e incapacitante. A simples mudança da pergunta “você tem ou teve dor de cabeça” para “você sofre ou sofreu de dor de cabeça” diminui a prevalência.
Estima-se que 50% população geral tem um tipo de cefaleia durante um período determinado de um ano e mais de 90% refere história de cefaleia durante a vida. Quanto aos subtipos de dor, a média da prevalência da migrânea (enxaqueca) ao longo da vida é de 18% e a média estimada da prevalência durante o último ano de 13%, sendo que este número entre as crianças e os adolescentes é de 7,7%. Esta doença foi ranqueada como a terceira doença mais prevalente no mundo e a sétima maior causa específica de incapacidade
A cefaleia do tipo tensional é mais comum que a migrânea, com prevalência ao longo da vida de aproximadamente 52%. Apesar de mais prevalente, apenas as cefaleias do tipo tensional frequente ou crônica reduzem a capacidade funcional por se tratarem de dores menos intensas quando comparadas à migrânea.
As cefaleias crônicas, ou seja, cefaleia em um número maior ou igual a 15 dias por mês, acometem cerca de 3% da população geral. Estes pacientes são os com maior redução na sua capacidade funcional.
Para fazermos um comparativo com outras patologias por hora muito mais “temidas” foi comprovado que a migrânea crônica reduz a “qualidade de vida relacionada a saúde” mais que a osteoartrite ou o diabetes e gera altíssimos custos diretos e indiretos. Somente os custos diretos foram estimados em 1 bilhão de dólares/ano nos Estados Unidos.
Enxaqueca
Conceito e características clínicas
Enxaquecas são crises de dor de cabeça, de forte intensidade, geralmente unilaterais e latejantes, com duração que varia de quatro até 72 horas. Habitualmente, as crises são acompanhadas por náuseas e vômitos, intolerância à claridade, barulho e cheiros. Com freqüência variável, duram horas ou até dias e podem chegar a ser diárias ou quase diárias. Alterações visuais como visão embaçada, luzes coloridas ou perda parcial da visão, podem anteceder as crises de enxaqueca e duram cerca de 30 minutos.
Seu diagnóstico é puramente clínico e na grande maioria das vezes não se faz necessário uso de quaisquer meios diagnósticos por imagem, ou eletrográfico.
Por que elas ocorrem?
Acredita-se, hoje, que as crises tenham início em áreas específicas do encéfalo (tronco cerebral). Iniciado este processo, espontaneamente ou por fatores externos, há envolvimento de vias nervosas e de algumas substâncias químicas (neurotransmissores) que, quando liberadas, provocam dor, configurando, então, uma crise com todos os seus sintomas. Muito provavelmente, as enxaquecas têm componente genético de transmissão, pois não é raro encontrarmos famílias com mais de um indivíduo acometido pela doença. A enxaqueca não é uma doença estrutural do encéfalo, por essa razão, toda a investigação laboratorial e de neuro-imagem é normal. A enxaqueca é uma doença funcional.
Tratamento
Muitas vezes, os episódios podem ser controlados com analgésicos comuns.
O tratamento dos casos que respondem mal a essas medidas deve ser feito com uma classe de drogas que recebe o nome de triptanos.
Existem sete delas disponíveis no mercado. Entre as vantagens estão a baixa incidência de efeitos colaterais e o mecanismo mais específico de ação.
A resposta ao tratamento é mais eficaz, quando é iniciado logo que surgem os primeiros sintomas. O efeito começa depois de 20 a 60 minutos, dependendo do triptano escolhido.
A maioria deles pode ser administrada novamente depois de duas a quatro horas, se houver necessidade. Aproximadamente um em cada três pacientes não responde ao triptano prescrito. Nessas situações, vale a pena substituí-lo por outro triptano ou associá-lo a antieméticos e anti-inflamatórios.
Os triptanos são contraindicados em portadores de hipertensão não controlada, de insuficiência hepática ou renal ou de doença coronariana. Seu uso na gravidez deve ser avaliado com critério nas mulheres que não respondem a outros tratamentos, porque, embora não provoquem defeitos genéticos graves, não é possível excluir a possibilidade de malformações menos aparentes.
Da mesma forma que outras drogas empregadas no tratamento das enxaquecas agudas, a administração frequente de triptanos está associada ao desenvolvimento da chamada cefaleia por uso excessivo de medicamentos, na qual o abuso de analgésicos leva a um ciclo vicioso. Por essa razão, o ideal é que os triptanos tenham seu uso limitado à média de dois dias por semana.
Os principais efeitos colaterais são formigamentos nas mãos e pés, endurecimento transitório do pescoço e sensação de opressão no peito não associada às coronárias.